19 de março de 2020
O SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA E A FACE HUMANA DO HERÓI DE FARDA
Por Woneska Rodrigues Pinheiro
No Brasil, mediante o aumento de acidentes por causas externas e a transformação do perfil epidemiológico da morbimortalidade, estabeleceu-se no âmbito do Ministério da Saúde (MS), no início dos anos 2000, a organização de uma Política Nacional de Atenção às Urgências com a implantação de novos componentes como os Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU)1.
Este serviço consiste em atendimento pré-hospitalar regulado por uma Central Médica e tendo como elemento assistencial as equipes das ambulâncias. Caracteriza-se por prestar assistência às pessoas em situações ameaçadoras da vida, possuindo como missão a prestação de cuidado imediato, rápido e eficiente, a fim de diminuir os riscos de sequelas e também o número de óbitos, sendo necessário garantir atendimento e/ou transporte adequado para um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) 1, 2, 3, 4.
Desta forma, o SAMU/192 potencializa e organiza o acesso aos serviços de urgência e ao leito hospitalar, tornando-se uma nova porta de entrada no sistema, capaz de salvar vidas, tendo em vista que é um serviço gratuito, que funciona 24 horas por meio da prestação de orientações e do envio de veículos tripulados por equipe capacitada, acessado pelo número “192”5.
Neste contexto, o MS aponta que até 2018, o SAMU/192 estava presente, em 3.533 municípios, com 3.307 ambulâncias, sendo 2.702 unidades de suporte básico e 605 de suporte avançado. Ao todo, 170,6 milhões de pessoas (82,2% da população) contam com a cobertura do serviço. O Brasil conta ainda com 274 motolâncias, 13 equipes de embarcação, 13 equipes aeromédicas e 192 centrais de regulação distribuídas em todos os estados, até aquele ano6.
O SAMU/192 realiza os atendimentos em lugares diversos e conta com equipes que reúnem médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e condutores socorristas, os quais dedicam seus plantões ao atendimento de urgências de natureza clínica, cirúrgica, traumática, obstétrica, pediátrica, psiquiátrica, entre outras4.
Haja vista que o primeiro atendimento é determinante para favorecer a sobrevivência do paciente, indubitavelmente, o SAMU desempenha um papel crucial por possibilitar atendimento precoce às vítimas de agravos à saúde, atuando pela preservação da vida humana, oferecendo maiores chances do paciente retornar com saúde para o convívio dos seus.
Desta forma, referente ao trabalho prestado pelo SAMU à população, este texto tem o intuito de, para além de realizar uma breve apresentação do serviço, promover reconhecimento ao brilhante e nobre trabalho dos colegas que atuam no SAMU/192, em especial aos profissionais socorristas.
O socorrista é percebido socialmente como um super-herói, tendo suas ações dedicadas a salvar vidas. Entretanto, a realidade da atividade desses profissionais compreende exigências superiores à do imaginário popular. Os profissionais de farda azul estão constantemente expostos a situações inéditas, de risco e ritmo intenso de trabalho, resultando em sobrecarga física e psíquica. Lidam rotineiramente com situações trágicas, predispondo-se a níveis altos de tensão, pois são requeridos em suas jornadas a tomadas de decisões rápidas e sob pressão máxima.
O serviço pré-hospitalar representa uma particularidade na assistência às urgências e emergências, por significar um tipo de atendimento que extrapola o ambiente físico convencional das unidades de saúde, considerando que os profissionais do SAMU atuam diariamente em ambientes desfavoráveis, desconhecidos e imprevisíveis7.
Estes profissionais representam, de fato, um time de super-heróis, mesmo que sem super poderes. Lidam, contidamente, com a fragilidade da vida humana, de si e dos outros. O esconderijo secreto deles é uma ambulância e a farda seria a capa, digo também que este último é considerado um manto sangrado por quem o veste. Eles procuram cumprir com honra, amor e dignidade cada missão que chega à suas mãos. Chuva, sol incendiante, asfalto, morro de cima a baixo, estes são alguns dos cenários nos quais desempenham sua honrosa missão. O perigo é amigo constante, mas não mais que a fé habitante em cada peito daquele. Nem mesmo a maior das adversidades que permeiam o trabalho destes guerreiros, e não são poucas, tiram o brilho e o entusiasmo de ser um socorrista. Ao fim de cada jornada eles se desnudam da farda com muito cuidado e zelo, ela é sagrada, tem manchas de sangue e cheiro de gente. O que é mais sagrado que a vida, Senhores? A ação de um Socorrista é a materialização do respeito pela vida do outro. É Deus dizendo: serve! Não é por casualidade que ela é azul, tem toda uma Celestialidade nela. Tanto que, quem veste se reveste de resquício de anjo. Só quem já recebeu o auxílio de quem carrega a estrela da vida, na hora de um grande apuro, viu o sorriso de Deus em cada guerreiro deste que o “acudiu”. Por este e outros motivos a vocês, queridos colegas profissionais do SAMU, todo respeito, reconhecimento e admiração.
REFERÊNCIAS
As informações aqui explanadas não retratam a opinião deste comitê ou de seus membros, apenas a do colunista.
Profª. Drª. Woneska Rodrigues Pinheiro
Doutora em Ciências da Saúde
Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Regional do Cariri
Liga Acadêmica de Enfermagem em Emergência e Terapia Intensiva (LAEETI)
E-mail: woneskar@gmail.com
Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Regional do Cariri (URCA). Doutora em Ciências da Saúde pelo programa de Pós-graduação da Faculdade de Medicina do ABC. Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Práticas Avançadas em Saúde (GEPPAS). Coordenadora do Projeto de extensão Atendimento Pré-Hospitalar na Comunidade. Coordenadora do Laboratório e Ambulatório de Primeiros Socorros da URCA – LAB SOS. Orientadora da Liga Acadêmica de Enfermagem em Emergência e Terapia Intensiva. Trabalhou como enfermeira assistencial do Hospital Regional do Cariri, atuando como enfermeira emergencista. Atou como enfermeira intervencionista do SAMU (CE). Pioneira na implantação dos serviços de emergência, de alta complexidade e pré-hospitalar do Cariri Cearense.